Na semana passada, ao ler casualmente o YouTube para fins de procrastinação, deparei-me com uma manchete que me chamou a atenção: “A ciência encontra Deus dentro de nós”. Instantaneamente intrigado, dei ao vídeo um clique.
O meu ecrã de computador portátil foi rapidamente adornado com a imagem de um homem vestido de preto, empunhando na mão esquerda o que eu presumia ser uma Bíblia. Tinha traços afiados e falcões e cabelo curto e estilizado, esbranquiçado com cinzento. Ele entregava um sermão a um salão cheio de gente e um pequeno sussurro de ar seguia muitas das suas palavras, como que para dar a impressão de que uma grande e secreta verdade estava a vazar.
“Vou dizer-vos como podem saber esta noite que Deus vos manterá sempre unidos, aconteça o que acontecer”, disse ele, quase num sussurro. “É uma pequena molécula de proteína chamada laminina”
O homem, descobri mais tarde, foi Louie Giglio, um pastor cristão proeminente (com mais de 250.000 seguidores do Twitter) e fundador do Movimento Paixão. Como aprendi mais rapidamente com o seu sermão no YouTube, ele adora lamininin.
De um ponto de vista científico, isto é completamente compreensível. As lamininas são um grupo de glicoproteínas que são absolutamente vitais para a manutenção e sobrevivência dos tecidos vivos em todos os organismos. São parte integrante de andaimes estruturais e influenciam a diferenciação celular, a migração e a aderência. O que não é para amar?
Giglio ficou encantado com o aspecto científico, mas para ele, o pontapé de saída foi uma imagem da proteína. Aqui está um esboço rudimentar:
“Quão louco é isso? O material que mantém o nosso corpo unido, que mantém o revestimento dos órgãos unidos, que mantém a tua pele, está na forma perfeita da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”! Giglio proclamava boisterously.
A Giglio, e outros, esta revelação fornece a prova da assinatura de Deus nas suas criações vivas. “Nunca num quadrilião de anos me convenceria de que isso é outra coisa senão a marca de um Criador que sabia EXATAMENTE como seria a “cola” de lamina muito antes mesmo de Adão ter dado o seu primeiro suspiro!!” diz um crente online anónimo.
Pode até comprar T-shirts e canecas de café que glorificam a proteína. “Grandes estilistas deixam sempre a sua marca”, diz um dos desenhos.
Então, será a lamina prova da existência de Deus? Em termos simples, não; é apenas mais um exemplo de paridolia. Algumas pessoas religiosas vêem uma imagem de uma cruz e percebem-na instantaneamente como significativa. É como encontrar a Virgem Maria numa sanduíche de queijo grelhado ou testemunhar Cristo numa tortilha.
Ao olhar para a lamina sob um microscópio electrónico, a semelhança diminui de facto significativamente. Penso que a proteína se parece mais com uma flor pessoalmente.